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  • Foto do escritorLia Garcia

Ícaro Rodrigues debate sistema prisional brasileirocom espetáculo baseado na obra de Plínio Marcos

Adaptação de conto sobre presídio tem direção de Roberta Estrela D'Alva e usa poesia falada para ampliar vozes silenciadas

Imagem: Noelia Nájera

O debate sobre o sistema prisional e a violência contra marginalizados presente na obra do dramaturgo Plínio Marcos (1935-1999) ganha um toque de modernidade na montagem de Inútil Canto e Inútil Pranto Pelos Anjos Caídos, espetáculo solo idealizado e protagonizado pelo ator Ícaro Rodrigues.

Com direção de Roberta Estrela D'Alva, a peça estreia temporada no Sesc Vila Mariana em 8 de setembro. As sessões acontecem às sextas-feiras, às 20h, e aos sábados, às 18h30, e seguem até 7 de outubro. O trabalho foi contemplado na 15ª edição do Prêmio Zé Renato, programa de incentivo ao teatro da Prefeitura de São Paulo e discute o encarceramento em massa, levando o público ao ambiente cru, cruel e complexo de um presídio.

O encontro de Ícaro Rodrigues com o conto de Plínio Marcos surgiu quando o ator trabalhou como educador de Teatro e Literatura em unidades da Fundação Casa. “A ideia era olhar para esse espaço escondido da sociedade, para o qual ninguém quer olhar. Embora eu trabalhasse na Fundação três vezes por semana, os sons e os cheiros dos ambientes ficavam muito presentes em mim durante toda a semana, assim como as conversas que eu tinha com os jovens, que sempre tiveram uma relação de muito respeito comigo”, conta o ator.

A partir de então, ele diz que o texto se tornou “um grande companheiro naquele ambiente onde tantas violências eram e ainda são normalizadas”. A obra, publicada em 1977, é um conjunto de contos sobre a morte de detentos que se rebelaram em uma cadeia de Osasco.

A encenação propõe performances corporais e vocais para dar vida a este texto. O trabalho corporal de Ícaro busca mostrar o esgotamento e o despedaçamento de quem vive essa dura realidade, misturando sentimentos de prontidão, cansaço e revolta tão comuns a essas pessoas.

Já o trabalho vocal bebe na fonte da poesia falada e busca referência nos slams e saraus que ocorrem nas periferias de São Paulo e do mundo, guiado pelo trabalho da artista e diretora Roberta Estrela D'Alva. Segundo Roberta, o “spoken word” foi fundamental para a transformação do conto em um espetáculo de teatro. “Este não é um texto teatral, então a pesquisa foi importante para dar cor e ritmo à palavra escrita”, diz.

A montagem também conta com gravações sonoras de pessoas que estiveram presas para promover um intercâmbio de temporalidades. O uso de arquivos de áudio no teatro faz parte das pesquisas desenvolvidas pela diretora e pelo Núcleo Bartolomeu, grupo do qual faz parte. “Nós procuramos vozes que fossem representativas do assunto que estamos falando. Utilizamos entrevistas do rapper Dexter, por exemplo, que esteve no sistema carcerário”, conta.

Além do ator e da diretora, a equipe criativa do projeto é formada por artistas que participam ativamente do movimento de ampliação do espaço das estéticas negras e periféricas nas artes brasileiras, para criar um efeito de identificação e reconhecimento no público.

Inútil Canto e Inútil Pranto Pelos Anjos Caídos

De 8 de setembro a 7 de outubro de 2023.

Sextas, às 20h, e sábados, às 18h30 Auditório Sesc Vila Mariana

R. Pelotas, 141 - Vila Mariana


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