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Tebas Land volta a São Paulo como potente alegoria sobre violência, paternidade e os limites da ficção

  • Foto do escritor: Redação
    Redação
  • há 4 dias
  • 2 min de leitura

Na nova temporada no Teatro Vivo reabre feridas sociais com inteligência e rigor cênico.

imagem da peça Tebas Land
Imagem: Ricardo Lopes

Após temporadas bem-sucedidas em diversas cidades brasileiras e participação no Festival de Avignon, Tebas Land retorna a São Paulo para nova temporada no Teatro Vivo, até o dia 28 de maio, com sessões às terças e quartas-feiras, às 20h. Dirigido por Victor Garcia Peralta e estrelado por Otto Jr. e Robson Torinni, o espetáculo é baseado no texto do premiado dramaturgo uruguaio Sergio Blanco.


Na trama, ambientada em um presídio de segurança máxima, um dramaturgo entrevista um jovem condenado por matar o pai com 21 golpes de garfo. O cenário — uma quadra de basquete da prisão — torna-se o espaço para encontros quase documentais entre dois personagens de realidades opostas. A encenação propõe um jogo de espelhos: uma peça dentro da peça, em que Torinni interpreta tanto o jovem assassino quanto o ator que o representa. Com forte carga de metalinguagem e autoficção, marcas do trabalho de Blanco, a montagem estimula uma reflexão sobre o fazer teatral, os mecanismos da memória e os limites entre realidade e encenação.


Não se trata apenas de uma peça sobre o teatro, mas de um dispositivo dramatúrgico potente que problematiza as estruturas sociais que silenciam, oprimem e traumatizam — sobretudo dentro da célula familiar. Tebas Land oferece um retrato denso e incômodo da figura paterna, da ausência de afeto e das feridas abertas por relações autoritárias, abusivas e negligentes.


No Brasil, a realidade reforça a atualidade do texto: apenas no primeiro semestre de 2022, 84% das violações contra crianças de até 6 anos foram cometidas por familiares. São dados que atravessam o espetáculo e ganham corpo na cena, evidenciando a urgência de se falar — e encenar — o que normalmente é abafado pelo tabu ou pela moral conservadora.


Ao articular referências que vão de Dostoievski a Freud, passando por Pirandello e São Martinho de Tours, Sergio Blanco compõe uma dramaturgia que desafia o espectador intelectualmente e emocionalmente. A encenação, por sua vez, opta por um minimalismo eficaz, onde o texto e os atores sustentam a tensão sem artifícios. Os atores mergulham com precisão nesse duelo de identidades, oferecendo interpretações que oscilam entre contenção e explosão, razão e delírio.


Mais do que um espetáculo premiado (vencedor dos prêmios Shell RJ e Botequim Cultural), Tebas Land é um manifesto artístico sobre a importância da escuta, da empatia e da complexidade da experiência humana. Um teatro que incomoda, mas que também cura — justamente por não se furtar ao confronto com o trauma, com a violência, com o que é difícil de ser dito. E, por isso, absolutamente indispensável.


A peça conta com patrocínio da Vivo, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet).


Tebas Land

Até 28 de maio.

Terças e quartas, às 20h.

Teatro Vivo

Av. Dr. Chucri Zaidan, 2460 - Vila Cordeiro

Ingressos com preço popular - R$ 40 (inteira) e R$ (meia-entrada)

Ingressos regulares: R$ 120 (inteira) e R$60 (meia-entrada)

Duração: 1h40 minutos

Classificação: 16 anos



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