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Nova montagem de Bonitinha, mas ordináriareinventa Nelson Rodrigues em distopia sobre hipocrisia e poder

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    Redação
  • há 4 dias
  • 2 min de leitura

Espetáculo atualiza tragédia rodrigueana e transforma miséria, desejo e moral distorcida em espelho cruel da sociedade brasileira contemporânea.

Imagem da peça
Imagem: Jennifer Glass

O premiado diretor Nelson Baskerville retorna ao universo de Nelson Rodrigues para apresentar uma poderosa releitura de uma de suas mais conhecidas tragédias cariocas: Otto Lara Resende ou Bonitinha, mas ordinária ou no Brasil todo mundo é Peixoto. Em temporada no Teatro de Contêiner, até 18 de maio, a montagem se impõe como uma distopia provocadora que desnuda as hipocrisias do Brasil contemporâneo — especialmente à luz do avanço da extrema direita e da corrosão moral institucionalizada.


Com um elenco numeroso e diverso, que inclui nomes como Alana Fagundes, Luciana Marcon, Márcio Araújo, Camila Brandão e Lauro Fagundes, a peça atualiza a narrativa de Rodrigues com potência visual e sonora. Em cena, um cenário claustrofóbico feito de pneus e borracha envolve o público em uma atmosfera de opressão. Os figurinos — roupas manchadas de lama, rostos cobertos com sacolas plásticas — materializam um país asfixiado pela aparência e pela corrupção moral.


Na trama, acompanhamos Edgard, homem pobre e honesto, que após anos de lealdade ao patrão Werneck, é colocado diante de uma escolha perturbadora: casar-se com Maria Cecília, jovem rica, bela e “bonitinha”, mas com um passado comprometedor. A proposta coloca Edgard em uma encruzilhada ética e existencial, dividindo-se entre a ascensão financeira e a integridade herdada de seu pai. Ao longo da narrativa, desejos reprimidos, traições e disfarces sociais revelam os mecanismos perversos de uma sociedade onde tudo — inclusive a honra — parece estar à venda.


Com trilha sonora executada ao vivo, que vai de Astor Piazzolla a Roberto Carlos e José Augusto, a encenação costura tragédia e ironia, lirismo e grotesco, em um fluxo cênico que tanto emociona quanto desconcerta. As músicas, por vezes nostálgicas, funcionam como contraponto à brutalidade exposta em cena, acentuando a dualidade entre o sonho romântico e a realidade brutal.


Ao revisitar Nelson Rodrigues com olhos de hoje, Baskerville não apenas homenageia o dramaturgo, mas o reativa como instrumento de crítica social aguda. A montagem é um grito contra a normalização da miséria, da desigualdade e do conservadorismo tóxico — e uma reafirmação da potência do teatro como espaço de denúncia, questionamento e reflexão coletiva.


Otto Lara Resende ou Bonitinha, mas ordinária  é um espelho incômodo onde se veem refletidos os dilemas morais e os vícios estruturais de um país inteiro. Um espetáculo cruel, mas necessário.


Otto Lara Resende ou Bonitinha, mas ordinária ou no Brasil todo mundo é Peixoto

Até 18 de maio

Sextas e aos sábados, às 20h

Domingos, às 18h

Teatro de Contêiner Mungunzá

Rua dos Gusmões, 43, Santa Ifigênia

Ingressos: R$60 (inteira) e R$30 (meia-entrada)

Venda online neste link.

Classificação indicativa: 18 anos

Duração: 110 minutos


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